Terreiro de Jarê mais antigo em funcionamento no Brasil é reconhecido pelo Iphan; religião é típica da Bahia
27/11/2025
(Foto: Reprodução) Terreiro de Jarê é reconhecido pelo IPHAN
O Terreiro Palácio de Ogum e Caboclo Sete-Serra, que fica em Lençóis, na Chapada Diamantina, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na quarta-feira (26). Fundado em 1949, o local é considerado o templo de Jarê mais antigo ainda em funcionamento no Brasil.
🔎 ENTENDA: O Jarê é uma religião de matriz africana da região da Chapada Diamantina, na Bahia, conhecida como um "candomblé de caboclos".
"Vencemos! Um sonho, uma batalha de 18 anos, que agora se concretizou e se torna realidade demais", publicaram os membros do terreiro, em uma rede social.
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O processo do tombamento do espaço foi iniciado há 18 anos, em 2007, a partir de uma carta encaminhada pela Associação dos Filhos de Santo do Palácio de Ogum e Caboclo Sete -Serra ao Escritório Técnico do Iphan, em Lençóis.
Terreiro foi fundado em 1949
Iphan
A justificativa para o tombamento do Iphan se baseou na relevância cultural e histórica do terreiro. Segundo o Iphan, o local é um testemunho da resistência e da criatividade das populações negras na consolidação de seus territórios simbólicos e espirituais.
Com o tombamento, o terreiro passa a ter proteção federal contra destruição e demolição. Além disso, qualquer restauração ou modificação no local deverá ser aprovada pelo instituto.
A cerimônia de votação pelo reconhecimento do Iphan ocorreu em Brasília, no Distrito Federal, e contou com a participação do filho do fundador do templo religioso, Sandoval, e da prefeita de Lençóis, Vanessa Senna.
"Este tombamento é muito mais do que um reconhecimento: é a garantia de preservação de um patrimônio sagrado, cultural e ancestral que faz parte da alma de Lençóis e da Chapada Diamantina. É respeito à nossa história, às nossas tradições e aos povos que as mantêm vivas", disse a gestora.
A história do terreiro
Terreiro Palácio de Ogum e Caboclo Sete-Serra, em Lençóis
Iphan
O templo religioso foi fundado por Pedro Florêncio Bastos - mais conhecido como Pedro de Laura. Apesar de tradicionalmente um templo de Jarê ser fechado após a morte do líder, o local segue em funcionamento devido ao pedido do fundador.
O Terreiro Palácio de Ogum e Caboclo Sete-Serra é composto por uma casa principal denominada pagodô, onde ocorrem as cerimônias e práticas rituais; um espaço consagrado aos exus (caramanchão); e outros ambientes que ocupam o terreno de aproximadamente 3.782 m².
O templo é cercado por vegetação nativa, árvores sagradas, pedras, cursos d’água e objetos enterrados.
O que é o Jarê?
O Jarê surgiu da mescla de duas cerimônias distintas. A prática teve início nas cidades de Andaraí e Lençóis, na Chapada Diamantina, através de mulheres africanas escravizadas vindas da Costa da Mina - onde hoje são os países de Gana, Togo, Benim e Nigéria.
As mulheres faziam cerimônias religiosas dentro de suas casas e na língua iorubá, mas se viram na obrigação de prestar culto a entidades que deviam ser reverenciadas na parte de fora dos imóveis.
Diferente as cerimônias dentro de casa, essas eram feitas em português e abertas para qualquer pessoa que quisesse participar.
Com o tempo, os dois tipos de celebrações se fundiram e deram origem ao Jarê atual, no qual todas as entidades passaram a ser reverenciadas no mesmo espaço.
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